MENINAS DO BRASIL
(Moraes Moreira - Fausto Nilo)
Três meninas do Brasil, três corações democratas
Tem moderna arquitetura ou simpatia mulata
Como um cinco fosse um trio, como um traço um fino fio
No espaço seresteiro da elétrica cultura
Deus me faça brasileiro, criador e criatura
Um documento da raça pela graça da mistura
Do meu corpo em movimento, as três graças do Brasil
Têm a cor da formosura
Se a beleza não carece de ambição e escravatura
E a alegria permanece e a mocidade me procura
Liberdade é quando eu rio na vontade do assobio
Faço arte com pandeiro, matemática e loucura
Serenatas do Brasil, eu serei três serenatas
Uma é o coração febril, a outra é o coração de lata
A terceira é quando eu crio na canção um desafio
Entre o abraço do parceiro e um pedaço de amargura
Se eu ganhasse o mundo inteiro, de Amélia a Doralice
De Emília a Carolina, e os mistérios de Clarice
Se teu nome principia, Marina no amor Maria
Só faria melodias com a beleza das meninas
Quando o povo brasileiro viu Irene dar risada
Clementina no terreiro restaurando a batucada
Muito além de um quarto escuro, nos olhos da namorada
Eu sonhava com o futuro das meninas do Brasil
MENINA AMANHÃ DE MANHÃ
(Tom Zé - Perna Froes)
Menina amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Na hora ninguém escapa
Debaixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado
Menina, olhe pra frente
Menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segura o jogo, atenção de manhã
Menina a felicidade é cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça
Menina a felicidade é cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
Menina a felicidade é cheia de ano, é cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de ono
Menina a felicidade é cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on
Menina a felicidade é cheia de a, é cheia de é
É cheia de i, é cheia de ó
É cheia de a, é cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó
SEO ZÉ
(Marisa Monte - Nando Reis - Carlinhos Brown)
O Brasil não é só
Verde, Anil e Amarelo
O Brasil também é
Cor de Rosa e Carvão
Patrimônio de Antônio
Anônimo nômade
Homem que rompe Adão com facão
Seo Zé
Tá pensando em boi
Bananeira Sangrou
Mais um pro Baião de dois
Lampião findou cabôco
Vamos chamar
Brás Cubas
Pra dançar quadrilha
Pra subir pra Cuba
Com toda família
Se encontrarmos Judas
Celebrando budas
Perfilamos mulas
Pra abalar Belém
Seo Zé
Tá tangendo em boi
E a porteira serrou
Quem foi nunca mais se foi
A roseira flororô
Seo Zé
Seo Zé
Seo Zé
Seo Zé, Seo Zé
Seo Zé
MULHER NOVA, BONITA E CARINHOSA FAZ O HOMEM GEMER SEM SENTIR DOR
(Zé Ramalho - Octacílio Batista)
A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
Alexandre figura desumana
Fundador da famosa Alexandria
Conquistava na Grécia e destruía
Quase toda a população Tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
E depois de vencê-la, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz um homem gemer sem sentir dor
Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
NA CABECINHA DA DORA | NEGA DO CABELO DURO
(Ântonio Vieira - Pedro Giusti / David Nasser - Rubens Soares)
Na cabecinha da Dora
meu pensamento concentro
tem muito rolo por fora
e pouco miolo por dentro
Porque
A criola tem um zelo
Para agradar o criolo
Ela manda esticar o cabelo
Depois mete o cabelo no rolo
E cai na boca do povo que não para de falar
Se é pra enrolar denovo por vc manda esticar?
Se é pra enrolar denovo por vc manda esticar?
Na cabecinha da Dora
meu pensamento concentro
tem muito rolo por fora
e pouco miolo por dentro
A criola tem um zelo
Para agradar o criolo
Ela manda esticar o cabelo
Depois mete o cabelo no rolo
E cai na boca do povo que não para de falar
Se é pra enrolar denovo por vc manda esticar?
Se é pra enrolar denovo por vc manda esticar?
Nega do cabelo duro
Qual é o pente que te penteia
Qual é o pente que te penteia
Qual é o pente que te penteia, ô nega
PARA VER AS MENINAS
(Paulinho da Viola)
Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco a dor no peito
Não diga nada sobre meus defeitos
E não me lembro mais quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito
MAIÚSCULO
(Sérgio Sampaio)
Como é maiúsculo
O artista e a sua canção
Relação entre Deus e o músculo
Que faz poderosa a sua criação
Pensando bem
É um mistério
Como é misterioso o coração
Como é minúsculo
O olhar de quem vive no escuro
Um sujeito malvado e burro
Alguém machucado como não ter um bem
Não tem porém
Mas tem um tédio
Não ser vítima do assédio de ninguém
Quase não dorme
Vive ao avesso
Medo conhece bem
Sem endereço
Como é que pode
Não fazer mal também
Tenho meus vícios
Vivem dentro de mim esses bichos
São o pai e a mãe dos meus lixos
E às vezes me levam de mal a pior
Pergunto quem
Não sabe disso
Os momentos em que a vida não tem dó
Solto meus bichos
Pelas músicas quando me aflijo
Mas um homem sem esse feitiço
E sem um carinho a que recorrer
Pode matar
Querer correr
Pois perdeu todo sentido de viver
DAMA DO CASSINO
(Caetano Veloso)
Eu prometi e cumpri mil carinhos
E muito respeito
Amor perfeito nos momentos bons
E nos momentos maus
Mas essa dama danada nunca encontra
Nada a seu jeito
Ela só busca as espadas, os ouros
As copas e os paus
Eu planejei sete luas de mel
Caravanas e tropas
Amor, paisagens, perfumes, vestidos
Receitas e roupas
Mas essa dona maldita sequer
Acredita em Europas
Ela só sonha com ouros, com paus
Com Espadas, com copas
Diz-se que quem é feliz no amor
No jogo é infeliz
Mas de quem faz do amor
Um jogo o que é que se diz
Eu não sei jogar e ela é a rainha
Como poderei pensar que ela é minha?
Eu escrevi canções pra caminhões
De guitarras e couros
Que se tornaram estouros em mais
De muitos carnavais
Mas pra essa Diva jamais
O sambódromo, o autódromo, os touros
Ela só fica pensando em paus
Copas, espadas e ouros
Eu já fiquei como Erasmo
Sentado à margem das estradas
À espera de uma palavra da boca
Um gesto das mãos
Mas essa deusa só diz nãos e
Nuncas e necas e nadas
Ela só pensa nas copas nos paus
Em ouros e espadas
CANTAR
(Teresa Cristina)
Cantar
Desnudar-se diante da vida
Cantar é vestir-se com a voz que se tem
Achar o tom da alegria perdida
E não ter que explicar pra ninguém
A razão desta tal melodia
Encharcada de sorriso e pranto
No cantar, a lembrança se cria
E envelhece de repente
Vai solta no ar
Por isso eu canto
Canto pra amenizar
Grande dor que me traz
O sorriso de alguém
Se a minha escola querida
Cruzar a avenida
Eu canto também
No canto
Vou jogando a minha vida pra você
Por isso, fecho os olhos pra não ver
MARIA, MARIAZINHA
(Aloísio Ventura)
No velho cais dourado, esquirondon
Onde ela sambou, esquirondo
Seu lindo requebrado, esquirondo
Meu coração parou
Sambando, esquirondo
Eu vi a moreninha, esquirondon
Batendo as tamanquinhas, esquirondo
E eu maravilhado...láia, láia, láia
Sambando...
Numa tarde linda
Eu me lembro ainda
Do velho cais dourado
Sambando, esquirondo
Eu vi a moreninha, esquirondo
Batendo as tamanquinhas, esquirondo
E eu maravilhado... láia, láia, láia
Sambando, esquirondo...
E eu maravilhado
Com seu requebrado
Quis sambar também
Ai linda moreninha
Tu serás só minha
Tu serás meu bem
A noite foi caindo
Lá no céu surgindo
Uma estrela brilhou
A linda moreninha
Foi se requebrando e se retirou
Maria, Mariazinha...iáiái
Maria, Maria satisfeito o seu desejo
Eu até te dou razão
Eu tenho dado o meu amor
CHULA CORTADA
(Roque Ferreira)
Dom de amar
se o amor é o mar
sou seu marinheiro
Em noite de lua cheia
as ondas do mar são minhas
eu fico brincando na areia
na cama de águas marinhas
Se tem calmaria no mar
eu me deleito
por conchas e corais de abraço estreito
aos beijos do sol
Na ressaca eu espreito
espero acender o farol
Dom de amar
se o amor é o mar
sou seu marinheiro
Inda ontem relampiou
na beira do mato
ê manguezal clariou, ê manguezal clariou
a minha dor no retrato
Sai da roda invejosa
teu melaço não me engana
aprendi chula cortada
no banguê cortando cana
Sapo tem o olho grande
mas ele vive na lama
ISSO AQUI TÁ BOM DEMAIS
(Dominguinhos - Nando Cordel)
Olhe isso aqui tá muito bom
Isso aqui tá bom demais
Olha quem tá fora quer entrar
Mas, quem tá dentro não sai
Vou me perder
Me afogar no teu amor
Vou desfrutar
Me lambuzar nesse calor
Te agarrar pra descontar minha paixão
Aproveitar o gosto dessa animação
HOMEM DE SAIA
(Marcelo Reis - Eneas De Castro)
Eu fui numa festa lá no Assaré
Uma festa feminina só dava muié
A dona da festa era Catarina
A porteira era Sabina
A garçonete era Raquel
A sanfoneira era Margarida
A zabumbeira era Vida
A trianglista éra Zabél
Só dava muié, Só muié que dava
Home chegava na porta, mais lá dentro náo entrava
Mas o Ripinha que é muito enxerido
Botô logo um vestido, conseguiu entrar
Chegô lá dentro, foi dançar com Gabriela
Deu um aperto nela, e ela começou gritar
Tem home de saia, dentro do salão
Bota esse home pra fora, que é pra não dar confusão
MINHA TRIBO SOU EU
(Zeca Baleiro)
Eu não sou cristão
eu não sou ateu
não sou japa não sou chicano não sou europeu
eu não sou negão eu não sou judeu
não sou do samba nem sou do rock
minha tribo sou eu
Eu não sou playboy eu não sou plebeu
não sou hippie hype skinhead nazi fariseu
a terra se move falou Galileu
não sou maluco nem sou careta
minha tribo sou eu
Ai ai ai ai ai
ié ié ié ié ié
pobre de quem não é cacique
nem nunca vai ser pajé
DEIXA A GIRA GIRAR
(domínio público - adaptação Tincoãs (Mateus, Dadinho e Heraldo)
Iê, ô
Iê, ô
Ih, iô
Meu pai veio da Aruanda e a nossa mãe é Iansã
Meu pai veio da Aruanda e a nossa mãe é Iansã
Ô, gira, deixa a gira girar
Deixa a gira girar...
Saravá, Iansã!
É Xangô e Iemanjá, iê
Deixa a gira girar...
Iê...durururururu, lá, lálailá, lálaiálá
Meu pai veio da Aruanda e a nossa mãe é Iansã
Meu pai veio da Aruanda e a nossa mãe é Iansã
Ô, gira, deixa a gira girar