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Release - por Lauro Lisboa

A nova promessa da música brasileira vem do Maranhão, terra de Alcione e João do Vale e capital do Reggae no Brasil. Rita Benneditto é o novo canal de acesso aos sons de um dos pedaços nordestinos menos difundidos pelo país afora. Ela vem da mesma safra que frutificou talentos como Chico César e Zeca Baleiro. A cantora está lançando seu álbum de estréia, "Rita Benneditto" pela gravadora Velas, produzido pelo paulista Mário Manga e pelo também maranhense Zeca Baleiro. O disco abre com Pé do Lajeiro, fundindo referências maranhenses de épocas e musicalidades diversas. Um dos autores é João do Vale (em parceria com José Cândido e Paulo Bangu) e o arranjo tem uma levada de reggae, por sugestão de Zeca. 0 Biltre, outro belo reggae, é também de um conterrâneo dela, Josias Sobrinho, que na década de 70 emplacou "Engenho de Flores", na voz da baiana Diana Pequeno. Não é por acaso que o nome de Chico César, Carlos Careqa, e Zeca Baleiro fazem parte do repertório das 14 faixas do CD.

Zeca, o mais constante, divide com Rita uma composição: Divino. É nessa canção que ela mais se inspira no canto das caixeiras maranhenses. De autoria do próprio Zeca Baleiro aparecem três inéditas: o funk Missiva, Olhozinho - um reggae com potencial de hit-, e a balada folk Lenha, além da adaptação de Deixa Nós Ir da Banda de Pífanos de Caruaru. São composições que comprovam a qualidade do autor, um talento ascendente dos anos 90.Outra referência marcante vem em Cortei o Dedo, uma delicada canção do Paranaense Carlos Careqa quecontrasta com as imagens incômodas da letra de Raul Cruz.

A grande revelação, no entanto, é do compositor Antônio Vieira, que tem quase 80 anos e um vasto cancioneiro, parte do qual Rita revela agora ao Brasil por meio destas sedutoras canções: Cocada e Tem Quem Queira. Nas duas Rita esbanja suingue, explorando a malícia das letras e a graça do ritmo, em alusão ao gênero maranhense conhecido como baralho, que tem parentesco com o samba de roda e o lundu. "Vieira é um autor de melodias e letras simples, mas com a mensagem profunda", define Rita. "Nunca ninguém gravou suas músicas antes."

Entre as releituras ressaltam as peculiaridades de Rita, adicionando por exemplo, uma levada de tambor de mina (comum em terreiros de umbanda) à bela Pra Você Gostar de Mim, de Vital Farias, sem falar na citada Pé do Lajeiro.

A canção Isso, de Chico César, ganhou acento bluesístico, em sutil arranjo de cordas e gaita. Sua música conserva muito o canto das caixeiras do Divino Espírito Santo e das inflexões sinuosas das toadas de boiadeiros. Uma de suas influências confessas é Dona Teté, uma dessas cantoras locais que entoam seu canto lamentoso nos tradicionais cortejos religiosos da cidade.Ao mesmo tempo que traz "um lado cultural muito forte", que para ela é muito positivo, sua música toma a liberdade de inserir informações contemporâneas como é o caso de Jurema, um tema de domínio público, que adaptou para as pistas num gênero batizado por ela de "dance-macumba"."Eu cantava essa música desse jeito desde 1989", conta Rita. "É um tema de culto de umbanda e eu sempre fiquei impressionada com o transe dos terreiros. Tenho também uma influência muito grande dos índios, daí a relação com o que ocorre com as pessoas numa pista dançando.